“Parceria entre a Fundação Aga Khan e Cooperação Portuguesa é robusta e vem de longe”
Fernando Silva, gestor do Projecto de Desenvolvimento do Instituto Agrário de Bilibiza, Distrito de Quissanga, Cabo Delgado, aborda a parceria da Fundação Aga Khan com o Projecto +Emprego e revela algumas das iniciativas em curso ao longo de 2023.
Como nasceu e em que se baseia esta parceria entre o +Emprego e a Fundação Aga Khan Moçambique?
A parceria entre a Fundação Aga Khan Moçambique e a Cooperação Portuguesa/Instituto Camões não é nova. As ligações são bastantes robustas e começaram em Portugal através da nossa tutela. No campus do IABIL, no Posto Administrativo de Bilibiza, Distrito de Quissanga, o Instituto Camões/Cooperação portuguesa teve uma contribuição significativa na transformação da antiga e obsoleta Escola Básica Agrária de Bilibiza num Instituto Agrário moderno e credível ao nível nacional pela sua capacidade técnico-científica para prover formação técnica e prestar serviços agrários aos produtores comunitários de qualidade.
Em 2022, retomámos a parceria e o IABIL participou na Formação de 49 jovens em cursos de curta duração nas áreas de avicultura (15), Produção de vegetais (20) e na Produção e processamento de mel (15), com módulos das ocupações profissionais e complementares sobre Habilidades para a Vida e Elaboração Planos e gestão de Negócios oficiais aprovados pela ANEP. São cursos com duração variável, de um a três meses, essencialmente prático visando o saber fazer, neste caso, produzir algo útil capaz de constituir negócio com os kits profissionais básicos que cada um formando apto recebe no final do curso.
Quais os objetivos do projecto em 2023, próximos passos e iniciativas que irão marcar este novo ano?
A planificação de 2023 contempla acções de formação profissional de 30 jovens em técnicas de avicultor: produção comercial de ovos (15) e de Apicultor (15); Prestar assistência técnica adequada e de proximidade às 79 iniciativas empresariais dos quais 49 são do ciclo passado e 30 novas micro empresas e/ou micro cooperativas de produção de produtos e serviços comercializáveis e geradoras de renda nas comunidades que resultem dos cursos de 2023; reforçar a capacidade dos formadores através de treinamento prático de 10 formadores do IABIL(7) e IMPIM (3) em técnicas de Elaboração de Planos de Negócios e adaptação de um espaço e apetrechamento em equipamento para a casa de Mel no IABIL Campus de Ocua, agente promotor e processador de cadeia de mel, conferindo uma boa qualidade, como área com potencial mercado interno e internacional.
A assistência de proximidade constitui um actividade inovadora que irá ocupar os 3 graduados do IABIL treinados no ciclo passado para assegurar que a iniciativa empresarial dos formados dos cursos de curta duração tenha vigor e gere capacidade interna de conduzir o seu próprio negocio perante os choques externos, em particular no início de actividade.
Em 2023, como forma de alargar a oferta formativa, prevê-se produzir 8 vídeos didácticos para formação de apicultor à distância, por forma a alargar o âmbito da formação e garantir a produção de maior quantidade de mel e como forma de proteger as abelhas e preservar os ecossistemas, a biodiversidade e as florestas e incrementar a produção e produtividade de alimentos.
Existem já alguns testemunhos de jovens que passaram pelas formações dadas na área da avicultura, pelo que pude ver. Em que consistiram estas formações? Há também aqui uma forte componente prática em quase todos eles, porque?
Como referi anteriormente, os cursos são eminentemente práticos tendo como base o potencial mercado que almeja, pujante reflexo indireto da indústria do óleo e o gás, baseando-se no método do “Learning by doing”. Em todos os cursos, o ciclo é completo, se for produção de vegetais, que tem a duração de três meses, iniciam com viveiros, transplante; amanhos culturais à colheita. No caso de frangos, o curso inicia com a preparação do local, colocação da cama para receber os pintos, tratamento antisstress, vacinação, água e alimentação, regulação da temperatura interior com os meios precários à colheita e ligações aos mercados à venda dos frangos.
No caso da apicultura, a formação começa com a construção de colmeias, identificação e escolha do local para o apiário de acordo com as exigências técnicas para atração e criação de abelhas, maneio e manutenção do apiário, proteção do apiário à colheita e processamento e venda do mel e os seus derivados. Só no curso de apicultor é que se recorreu às colmeias já existentes, para praticar as técnicas de manutenção do apiário com abelhas e de colheita e processamento do mel, porque o processo inicial de captura e povoamento das colmeias é lento.
Felizmente, a maioria dos formandos, de ambos os sexos, quando terminam os cursos têm competências para produzir e iniciar o seu próprio pequeno negócio. Cada apicultor recebeu cinco colmeias do tipo quenianas que têm a capacidade de produzir pelo menos 15 Kg de mel. Cada frasco de 250 ml custa em média, 300,00mt. Como atividade complementar o apicultor pode arrecadar um renda alternativa razoável, que pode ser incrementada sem muito investimento.
Como é que este tipo de iniciativa pode ser diferenciadora e decisiva para o tecido social jovem, e também para as mulheres da região, que defrontam os problemas que conhecemos?
As iniciativas como as que o Projeto + Emprego e outras que a Fundação Aga Khan Moçambique tem levado à cabo na Província de Cabo Delgado e que envolvem os jovens vulneráveis de ambos os sexos (50/50) são bastante elogiadas pelos beneficiários e pelas comunidades em geral.
A percepção sobre a utilidade destas iniciativas é muito boa e o acolhimento é total em todas as comunidades dos Distritos de Quissanga, Macomia, Meluco, Ancuabe e, agora, em Chiúre, onde trabalhamos.
De preferência o projecto estimula uma percentagem de 50% de formandos 50% homens e mulheres. Contudo, no caso da apicultura, a área não tem atraído muitas mulheres, contrariamente à avicultura e à produção de vegetais, que normalmente é realizada de forma equilibrada por homens e mulheres..
Nestas duas áreas de formação as mulheres são a maioria e mesmo onde são poucas, sentimos que estas actividades decorrem em pé de igualdade, nunca vi nem senti qualquer tipo de discriminação com base em género, pois em muitos casos a liderança é feminina ou partilhada com os homens. É caso para dizer que os projectos e as iniciativas nas comunidades estimulam o respeito e parcerias entre homens e mulheres, unidos pelos mesmos interesses.
Nalgumas associações que criaram grupos de poupanças à partir das receitas colectivas, estes grupos são, na sua maioria, dirigidos por mulheres que têm autoridade perante os membros do grupo ou associação. Unidos enfrentam com mais facilidade os problemas comuns nas suas comunidades, usando mecanismos apropriados.
Concluindo, gostaria de referir que as abordagens de qualificação e capacitação desta natureza devem privilegiar, sempre que possível, o respeito pelo mundo real destes jovens, as suas próprias experiências e sem pré-avaliação das suas capacidades, incentivando o seu esforço para compreensão e, posterior apropriação e assimilação dos conhecimentos e habilidades. O que se consegue quando os colocamos a resolver os problemas e a tomarem decisões. Esta metodologias estimulam a introspeção e compreensão, a análise dos problemas, a avaliação das variáveis para encontrar soluções e a avaliação de situações novas ou similares.